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segunda-feira, 30 de abril de 2007

Desenvolvimento do tema "Currículo, cotidiano escolar e didática: vivências, reflexões e desafios."

O momento de crise permanente que vivemos na educação e, portanto, na nossa sociedade, é cotidianamente omitido pelos pais, professores, mídias e pelas próprias instituições aos alunos. Parece infundado o que digo, pois também cotidianamente recebemos uma carga enorme de denúncias dos mesmos sujeitos citados, tais quais: os alunos se formam sem saber escrever, os professores estão desvalorizados, os pais estão sem tempo ou desempregados, a escola não tem apoio financeiro, etc... etc... O currículo prescrito tanto nas Ciências aturais quanto nas Ciências Humanas não nos permite a relação entre escola e sociedae, a escola ou se torna vítima enquanto instituição falida, ou vilã enquanto aparelho ideológico do estado.
Concordando com Georges Snyders em "Escola, Classe e Luta de Classes", que não podemos nos prender numa inércia diante do tenebroso quadro com o qual nos deparamos, pois é nele que vivemos e trabalhamos. Nos formamos na escola (considerando a etapa universitária) e temos como nossa maior chance concreta no mercado de trabalho a escola. Como trabalhar nesta instituição sem sermos cúmplices do seu cotidiano contraditório e adiador do processo revolucionário? Enquanto professores pesquisadores, devemos fortalecer a teoria social que está por trás do nosso trabalho para que não nos enfraqueçamos num processo de auto culpabilização, ou ao contrário cairmos numa síndrome de heroísmo individual. Ou, o que acontece na maioria dos casos, numa completa despersonalização de nós mesmos enquanto ser humano e professor, e na despersonalização do outro, mais diretamente do aluno enquanto discente e também ser humano, e daí por diante também da sociedade da qual fazemos parte. Este processo pode ser caracterizado por alienação tanto dos professores quanto dos alunos. O conceito de alienação não se traduz somente enquanto condição de ignorância, como se faz entender para o senso comum, mas também como um processo de afastamento, distanciamento, de alheamento provocados quando se assumem os posicionamentos políticos. O que queremos? Nos afastar ou nos aproximar da realidade? Podemos também comprar as teorias que concordam que a realidade é algo inexistente ou "construído" subjetivamente por cada um, nesta podemos construir nossa realidade individual sem comprometimento nenhum com problemas mais coletivos. Este fenômeno vem tomando espaço de forma fatal nas "novas" abordagens que vêm se colocando no âmbito do ensino das Ciências Naturais e Humanas. Sempre invisibilizando com teores de diversidade, de depoimentos de fontes históricas não consideradas pela ciência tradicional, pelo apelo cultural às questões políticas, as "novas" abordagens vêm despolitizar nos conteúdos curriculares as tensões sociais agravadas em momentos de crise e de reconfiguração do sistema capitalista.
Ao sermos rigorosos com nossa profissão, ao nos assumirmos como intelectuais trabalhadores, já podemos pensar com discernimento e não deixar que a avalanche cotidiana varra de nossa formação o ponto de vista crítico, ou seja, aquele ponto de vista que até o senso comum reconhece quando precisamos "pensar com a cabeça fria", "pensar com sangue frio", ou "pensar com filosofia". A crise permanente da educação, não está aqui sendo abordada de forma fatalista, ou numa seqüência que busca apontar culpados, mas sim no sentido de que temos que ter claro o entendimento de que esta crise é uma crise histórica e intrínseca ao sistema capitalista, ou seja, é um fato dado de extrema relevância para reflexão e ação no plano geral da prática e também do amadurecimento da teoria social que fundamenta nossas ações.
Metodologicamente, a categoria de cotidiano por um lado surge para que encontremos um lugar e tempo palpáveis e passíveis de transformação ao nosso alcance concreto, e, portanto no dia a dia; mas também ela pode se dispersar perdendo o horizonte da necessária transformação histórica, isolando a crise escolar da totalidade de um processo maior produzido pela organização social do sistema capitalista. No cotidiano da formação de professores, nossos professores nos afogam com propostas de aula apresentando-nos novas abordagens, novas técnicas, novas fontes, etc... Assim, os problemas estruturais que envolvem a escola no âmbito social, político e econômico, se transformam numa questão didático pedagógica pura. Todos até fingem entender que as questões didático-pedagógicas estão permeadas por posicionamentos políticos e que por sua vez estão respaldados numa teoria social, mas imediatamente há um esvaziamento neste nível da formação no qual temos que ter esperteza e discernimento bastante para nós, enquanto alunos, podermos mapear qual é o verdadeiro resultado político da aula de cada professor, pois isso nos é omitido e esfumaçado no cotidiano universitário. Uma questão extremamente relevante é refletirmos sobre que consequências históricas nos trazem essas omissões no plano universitário? Imagine então que conseqüências nos trouxeram essas mesmas omissões no plano escolar, no qual o processo de formação intelectual está mais intrinsecamente ligado ao nosso processo de formação biológico?
Snyders vem admitir e apontar os erros em que caem as teorias da educação que se recusam a trabalhar com o recorte de luta de classes: mesmo as teorias que trabalham com o conceito de classe inspiradas no clássico Karl Marx, esquecem o que é primordial em sua teoria social que é o método do materialismo histórico dialético, algumas esquecem do materialismo, outras do histórico e outras do dialético. Nos primeiros escritos de Bourdieu em educação o autor que trabalha com o conceito de classe, se esquece da dialética que possibilita percebermos a possibilidade/necessidade de mudança intrínsecas às condições desvantajosas da classe não detentora dos meios de produção. Bourdieu e Passeron fazem uma minuciosa e tão espetacular crítica à escola enquanto aparelho reprodutor da classe dominante, que fecham e impossibilitam refletirmos sobre alguma resistência possível dentro desta instituição, como se a escola em si mesma fosse material de manobra. É claro que devemos considerar as futuras produções desses autores para entendermos melhor seu desenvolvimento teórico metodológico, mas este momento da obra de Bourdieu, especialmente, serve para refletirmos sobre se existe possibilidade de a instituição escolar fazer parte legítima do processo de luta ou não. Snyders na verdade não nos trás novidades e sim retoma reflexões que constantemente vão sendo colocadas de lado no cotidiano do ensino e da pesquisa, ele retoma conexões importantes para o processo de amadurecimento teórico e prático que muitas vezes não são espontaneamente esquecidas, mas sim provocadamente esquecidas.
A escola se mantém como instituição importante no processo revolucionário, não como redentora mas como parte do processo histórico num ir e vir dialético que a tem como instrumento de dominação mas também como possibilidade de luta e emergência da classe popular. Snyders nos lembra de como a escola é muito temida, e é esta dupla determinação "desvantagem justaposta a positividade" que nos possibilita ultrapassar a forma dada e aparente da escola, para sua forma histórica e necessária no contexto da sociedade capitalista.
"É preciso não esquecer, porém, que todo o esforço para conservar o "alvo final" ou a "essência' do proletariado isentos dos resíduos das e pelas relações com a existência – capitalista – conduz, em última análise, ao afastamento da compreensão da realidade, da "atividade crítica prática", a recair na dualidade utópica do sujeito e do objeto, da teoria e da pr´xis, tão certamente como o revisionismo o houvera feito."
(Georg Lukács: Sociologia. Organizador José Paulo Netto. São Paulo Ática, 1981. Coleção Grandes Cientistas Sociais. Texto destacado da parte I "Marxismo e Questões de Método na Ciência Social")
Neste destaque do texto pretende-se demonstrar que não vamos encontrar uma realidade coerente ou até mesmo esperada como pura: o proletariado seguindo espontaneamente o interesse da classe. No texto entendemos que a realidade é complexa e possível de ser verificada quanto menos isolarmos o objeto da sua totalidade histórica, pois do contrário nos depararemos com fenômenos imprevistos, impressionantes ou inexplicáveis.
Se você é um pesquisador que se espanta com o aumento da violência ou com o rápido processo de escassez dos recursos naturais como algo imprevisto, fantástico, ou sem explicação, ou ainda está preso a teoria de Thomas Malthus, que aprendemos na 5º série do Ensino Fundamental, de que vivemos uma crise por conta do aumento populacional e que a violência (as guerras), e os desastres naturais são meios naturais de contenção do excesso populacional, é um sinal de que você precisa ter maior intimidade com as Ciências Humanas, e com a História principalmente.
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Universidade Federal Fluminense – Faculdade de Educação
Curso Pós Graduação Lato Sensu em Ensino de História e Ciências Sociais
Trabalho da Disciplina Currículo, Cotidiano e Didática
Professora Maria Lúcia Oliveira
Aluna Maria Clara A. C. Fernandes

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim, provavelmente por isso e